segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por que nos comunicamos?

A comunicação é um ato natural no ser humano mas isso não significa dizer que sabemos nos comunicar. Este fenômeno natural é também complexo e geralmente é estudado por perspectivas distintas a partir de vários campos do conhecimento na tentativa de melhor compreendê-lo. Segundo Adler e Towne (2002), nos comunicamos para atender a algumas necessidades básicas, são elas: físicas, de identidade, sociais e ainda alguns objetivos práticos que podem ser alcançados através da comunicação.

Os autores supracitados mencionam que em casos extremos a comunicação pode ser um caso de vida ou morte e ilustram a proposição com a história de um piloto da Marinha americana, o Capitão Eugene McDaniel, que passou 6 anos como prisioneiro de guerra no Vietnã do Norte, muitas vezes em confinamento solitário. Como ressalta Daniel em seu livro Scars and Stripes:





"Uma coisa eu sabia: precisava manter comunicação com meu pessoal ali no campo.... A comunicação entre nós era a coisa que os carcereiros norte-vietnamitas mais se empenhavam em evitar. Eles sabiam, tão bem quanto eu e os outros, que um homem é capaz de suportar mais dor se está ligado a outros de sua espécie nesse sofrimento. O ser sozinho e isolado torna-se fraco, vulnerável. Eu sabia que tinha de fazer  contato, a qualquer custo" (apud ADLER TOWNE, 2002, p. 03).
A estreita relação entre bem estar físico e comunicação não se restringe a os prisineiros e pesquisadores médicos encontraram um leque de ameaças à saúde que estão vinculadas à carência de relacionamentos íntimos, são alguns deles:

  • Uma falta de relacionamentos sociais põe em risco a saúde das coronárias a um grau que rivaliza com outros perigos, como fumo, a pressão alta, lipídios no sangue, obesidade e falta de atividade física;
  •  As pessoas socialmente isoladas são 4 vezes mais suscetíveis ao resfriado comum do que outras que têm redes sociais ativas;
  • Os isolados sociais têm duas a três vezes mais probabilidades de morrerem prematuramente do que as pessoas com fortes vínculos sociais. O tipo de relacionamento parece não ter importância. Vínculos de casamento, amizade, religiosos e comunitários servem igualmente, ao que tudo indica, para aumentar a longevidade; e
  • O índice de todos os tipos de câncer é cinco vezes maior para os homens e mulheres divorciados, em comparação com seus equivalentes casados (apud ADLER; TOWNE, 2002, p.03).
 A comunicação não está associada apenas à questões de sobrevivência mas é a maneira pela qual aprendemos quem somos. O ser humano precisa se reconhecer em um outro da mesma espécie. É a partir do que as pessoas falam e como falam a respeito de quem somos que nossa identidade vai sendo moldada da infância até o fim dos nossos dias. O senso de identidade é construído a partir de como interagimos com as pessoas, quais as reações que as pessoas têm a respeito de nossos comportamentos,  somos inteligentes, preguiçosos, bonitos? Nossa identidade é resultado de uma série de fatores que entram em jogo na teia dos significados que são dados a cada um dos nossos atos, assim a ideia de quem somos é fruto também de como as pessoas reagem a nós e os sentidos que atribuímos às suas reações.

Portanto, privados de comunicação com outros, não teríamos uma noção de nós mesmos. John Stewart (apud ADLER; TOWNE, 2002) em seu livro Bridges, Not Walls, ilustra esta questão com o famoso caso do "Menino Selvagem de Aveyron".




Além de contribuir com a noção que temos de nós mesmos a comunicação ajuda a nos conectar com outras pessoas. Pesquisadores e teóricos identificaram inúmeras necessidades sociais que satisfazemos através da comunicação: Prazer (“porque é divertido”, “para me alegrar um pouco”); Afeição (“ajudar os outros”, “fazer os outros saberem que me importo”); Inclusão  (“porque preciso de alguém para conversar ou me    
fazer companhia"); Fuga (“adiar alguma coisa que eu deveria fazer”); relaxamento (“porque me deixa descontraído”); e Controle  (“porque quero alguém que faça alguma coisa por mim” ).

A comunicação apresenta-se importante para suprir necessidades físicas, de identidade e sociais mas também é investigada em seu caráter instrumental com a finalidade de atingir objetivos práticos, tais como: informar ao cabeleireiro para cortar de determinado modo, convence a professora de que a nota de sua prova precisa ser revista, ser aprovado em uma seleção de emprego, instruir um novo funcionário sobre as políticas da empresa... 

Reconhecer a importância da comunicação para os seres humanos é um primeiro passo no processo de compreender a complexidade deste fenômeno. Para tal, escolhemos iniciar esta investigação a partir da compreensão etimológica do termo 'comunicação' que será tema para a próxima discussão.



REFERÊNCIA


ADLER, Ronald B; TOWNE, Neil. Comunicação Interpessoal. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002.